Edgar Allan Poe foi um
escritor americano, nascido no século XIX, para ser mais exato, em 19 de
janeiro de 1809, em Boston, Massachusetts. Hoje é reconhecido por praticamente
inventar o gênero ficção policial, e por dar grandes contribuições à ficção
científica. Seus contos, sobretudo, os que aqui serão resenhados, são
conhecidos por um horror psicológico e trazem uma característica que está presente
na mentalidade do indivíduo da contemporaneidade, de uma certa
contemporaneidade, a vergonha do medo e da superstição e o credo na razão, na
explicação racional, mesmo diante de fatos (no momento ou à primeira vista)
inexplicáveis.
Os assassinatos da Rua
Morgue
[Contém Spoilers]
[Contém Spoilers]
Deixei este para o final
desta coletânea de contos de Edgar Allan Poe por uma razão. Este conto expressa
nitidamente, de maneira literal e objetiva o que venho constatando, o
imaginário fantástico ou fantasmagórico dos contos se forma a partir do momento
em que nos deixamos levar pelo horror, e paramos de nos atentar para a natureza
dos acontecimentos possivelmente improváveis, mas perfeitamente possíveis de
acontecer e plausíveis para serem explicados pela razão.
ASSASINATOS EXTRAÓRDINÁRIOS, assim são chamados pelos fictícios jornais do conto, os terríveis assassinatos que haviam ocorrido em uma na Rua Morgue. Duas mulheres que ali residiam sozinhas haviam sido brutalmente assassinadas, de modo que a vizinhança acordara as três da manhã com os gritos e arrombando a porta, cerca de trinta pessoas entram na casa e ao subir as escadas em direção a tragédia, ouvem duas vozes possivelmente masculinas que estariam encurraladas, pois não mais poderiam fugir sem serem notados. No entanto, ao entrarem no quarto, resta apenas os corpos das duas mulheres, janelas trancadas e aparentemente nada fora roubado. Um assassinato extraordinário, não pelas vítimas, mas pela misteriosa fuga e visto que nada fora levado, pela ausência de motivos.
Uma narrativa de gênero ficção policial, pelo seu caráter investigativo, mas que a polícia nele presente se apega ainda ao extraordinário o que limita seu campo de visão. A continuidade da investigação e a sua, adianto, solução fica a cargo de um amigo Dupin do mais uma vez, mas não o mesmo, narrador-personagem. Augusto Dupin é apresentado ao leitor durante a primeira parte do conto, antes da revelação do assassinato, como um grande leitor. Seu ceticismo quanto ao extraordinário é implícito por quase todo o conto, mas sempre visível. Sua capacidade analítica indiciária se mostra, ironicamente, extraordinária, na medida que ele é capaz de perceber até mesmo o que seu amigo está pensando através de uma complexa análise de causa-efeito dos fatos passados. É este o responsável por mostrar ao narrador e consequentemente ao leitor, que não há nada de sobrenatural, mesmo nas mais improváveis e horrorosas narrativas. É Dupin o responsável por denunciar que a ilusão do extraordinário cega o indivíduo para a percepção do real, as vezes cruel, por vezes improvável, mas sempre perfeitamente explicável pela razão e pelos indícios. Dupin, em sua forma de pensar, revela parte da contemporaneidade em sua vontade de verdade. A narrativa se encerra ao descobrir-se que o assassino na verdade era um orangotango vindo do exterior de navio, que aprende a se barbear imitando seu dono, e ao fugir por uma janela que conscientemente estava aberta, tenta se refugiar na casa da Rua Morgue. Com um barbeador na mão, tentando imitar o movimento na dona da casa, assusta-a, que por sua vez o assusta, o deixa agressivo e num acesso de medo e fúria mata as duas, foge pela janela de trás, que fecha e se tranca por um mecanismo próprio. Coincidências, improváveis mas possíveis, teias complexas de causa-efeito naturais. É isto que se apresenta em todos os contos desta coletânea. Teoria da probabilidade, racionalidade, a verdade como científica e constrangimento do sobrenatural, é isto que todos os narradores-personagens de Edgar Allan Poe nos mostram em algum momento, e é sobre e é isto que Dupin discursa,
ASSASINATOS EXTRAÓRDINÁRIOS, assim são chamados pelos fictícios jornais do conto, os terríveis assassinatos que haviam ocorrido em uma na Rua Morgue. Duas mulheres que ali residiam sozinhas haviam sido brutalmente assassinadas, de modo que a vizinhança acordara as três da manhã com os gritos e arrombando a porta, cerca de trinta pessoas entram na casa e ao subir as escadas em direção a tragédia, ouvem duas vozes possivelmente masculinas que estariam encurraladas, pois não mais poderiam fugir sem serem notados. No entanto, ao entrarem no quarto, resta apenas os corpos das duas mulheres, janelas trancadas e aparentemente nada fora roubado. Um assassinato extraordinário, não pelas vítimas, mas pela misteriosa fuga e visto que nada fora levado, pela ausência de motivos.
Uma narrativa de gênero ficção policial, pelo seu caráter investigativo, mas que a polícia nele presente se apega ainda ao extraordinário o que limita seu campo de visão. A continuidade da investigação e a sua, adianto, solução fica a cargo de um amigo Dupin do mais uma vez, mas não o mesmo, narrador-personagem. Augusto Dupin é apresentado ao leitor durante a primeira parte do conto, antes da revelação do assassinato, como um grande leitor. Seu ceticismo quanto ao extraordinário é implícito por quase todo o conto, mas sempre visível. Sua capacidade analítica indiciária se mostra, ironicamente, extraordinária, na medida que ele é capaz de perceber até mesmo o que seu amigo está pensando através de uma complexa análise de causa-efeito dos fatos passados. É este o responsável por mostrar ao narrador e consequentemente ao leitor, que não há nada de sobrenatural, mesmo nas mais improváveis e horrorosas narrativas. É Dupin o responsável por denunciar que a ilusão do extraordinário cega o indivíduo para a percepção do real, as vezes cruel, por vezes improvável, mas sempre perfeitamente explicável pela razão e pelos indícios. Dupin, em sua forma de pensar, revela parte da contemporaneidade em sua vontade de verdade. A narrativa se encerra ao descobrir-se que o assassino na verdade era um orangotango vindo do exterior de navio, que aprende a se barbear imitando seu dono, e ao fugir por uma janela que conscientemente estava aberta, tenta se refugiar na casa da Rua Morgue. Com um barbeador na mão, tentando imitar o movimento na dona da casa, assusta-a, que por sua vez o assusta, o deixa agressivo e num acesso de medo e fúria mata as duas, foge pela janela de trás, que fecha e se tranca por um mecanismo próprio. Coincidências, improváveis mas possíveis, teias complexas de causa-efeito naturais. É isto que se apresenta em todos os contos desta coletânea. Teoria da probabilidade, racionalidade, a verdade como científica e constrangimento do sobrenatural, é isto que todos os narradores-personagens de Edgar Allan Poe nos mostram em algum momento, e é sobre e é isto que Dupin discursa,
Coincidências dez vezes tão notáveis quanto essa [...] acontecem conosco a todo instante de nossas vidas sem que isso atraia atenção sequer momentânea. Coincidências, de modo geral, são o grande obstáculo no caminho dessa classe de pensadores educados no mais completo desconhecimento da teoria das probabilidades – essa teoria à qual os mais gloriosos objetos de pesquisa humana devem suas mais gloriosas elucidações.
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