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AMOR: o que Platão já falou sobre o assunto...



[#DescriçãoBásica: escrevi este texto para um trabalho quando estava no primeiro semestre do curso, enfim.. o livro que utilizei para fazê-lo foi "O banquete", de Platão. Basicamente, é uma pseudoresenha do texto]



O Banquete 

Ao iniciar um pensamento sobre amor, nosso entendimento consegue percebê-lo de inúmeras formas, sem que nenhuma seja “menos amor” que outra. Amor é, talvez, o objeto mais requisitado de nossos pensamentos, é temática constante e recorrente de nossas conversas mais desinteressadas. Fato é: amor é comum a todos os seres... (ou não...) e, depois da nossa racionalidade, é o que nos caracteriza como humanos, talvez?
            Talvez alguns digam que animais – não humanos – também amem. Os mamíferos, principalmente, são dotados de grande afeto e preocupação para com seus filhos. Os pássaros também, a exemplo dos pinguins, cuidam de seus filhotes com grande dedicação. Entretanto, é possível distinguir isso de instinto? Se lhes falta racionalidade, todas as ações e carinhos que eles venham a fazer é fruto de uma necessidade reprodutiva, de propagação da espécie, etc. Não há, portanto, nos animais (irracionais) consciência suficiente para se escolher um determinado parceiro ou outro por amor (é... talvez). Entretanto, o filósofo Schopenhauer (1788 - 1860) diminui, ou melhor, praticamente extingue a linha que separa esse amor “de animais irracionais”, de “animais humanos”; ainda sem a psicanálise freudiana ou a teoria darwinista, o filósofo alemão diz que o amor existe para a propagação da espécie, ou seja, poder-se-ia igualá-lo ao dos demais animais, uma vez que escolhemos um parceiro(a) em função de suas características, mesmo que isso seja inconscientemente, enfim... isso foi o que ele disse, mas vamos lá... o que será que PLATÃO nos diz sobre o assunto?
            Já Platão, como se pode observar em “O Banquete”, não se limita à questão biológica do amor, muito pelo contrário, há uma explicação sobre “Eros”[1] que não se resume ao sexo, mas, sim, a um amor contemplativo, contido e belo. Em “O Banquete”, o amor, “esta misteriosa energia insidiosa e soberana que perpassa e vivifica o universo”[2], é mostrado a partir de diferentes visões, as quais não se limitam ao psicológico e biológico do ser, mas, também, a questões éticas.
            Os personagens do diálogo (Banquete) são Apolodoro, Gláucon, o amigo de Apolodoro, Aristodemo, Sócrates, Agaton, Erixímaco, Pausâmias, Aristófanes, Fedro e Alcibíades.
            Ao iniciar o livro, notam-se dois interlocutores, dos quais um é Apolodoro e o outro um amigo seu, este último pede para que Apolodoro diga-lhe aquilo que foi conversado em um determinado jantar. Neste jantar (banquete), reuniram-se os oradores dos futuros discursos a respeito do amor, temática sugerida por Erixímaco. Sócrates, em concordância com a ideia de ser fazer odes a Eros, diz “de minha parte, não vejo como pudesse declinar, quando a única coisa de que entendo é da arte do amor”.
            Fedro, o primeiro a discursar, diz ser Eros o mais antigo dos deuses, mais antigo que Cronos. Pausâmias, em contrapartida, o adverte, dizendo que se deve entender que Eros não é uno, mas duo. Há um deus comum e outro celestial (como se um já fosse pouco, né?). Assim, existem dois tipos de amor. Quanto ao amor comum, relaciona-se com a consumação dos prazeres da carne, é tempestivo, descuidado, não há preocupação com a nobreza de sentimento, além existir tanto por homens quanto por mulheres[3] (mulheres eram bem subvalorizadas na Grécia Antiga... ¬¬). No que diz respeito ao celestial (Eros masculino), este ocorria por atração à inteligência e, portanto, era um amor entre homens (importante deixar claro que mulher não era ensinada a se instruir e gastar o tempo como esses filósofos amantes do ócio, por isso é desvalorizada até no amor).
            A filosofia platônica é marcada pela busca da unidade das coisas, pelo sentido original, essência que as coisas têm em si. Isso poderia ser alcançado se o filósofo chegasse ao “mundo das ideias”. O mundo real, sensível seria, pois, transitório e defeituoso, enquanto o ideal seria perfeito e estável. Pode-se encontrar um pensamento de “amor ideal” - algo que estivesse mais próximo da perfeição -  no discurso de Pausâmias, no qual ele diz ser o amor perverso aquele que “prefere o corpo à alma”, sendo este efêmero e imperfeito.
            Aristófanes propõe a mais criativa das hipóteses sobre o amor. Ele diz que os seres humanos eram, originalmente, andrógenos, ou seja, as pessoas tinham duas cabeças, quatro mãos, etc, de modo que existiam três tipos de seres: do mesmo sexo (feminino e masculino) e de sexo oposto. Por castigo de Zeus, eles teriam sido separados. Os humanos, muito desolados com a separação, passaram a querer se abraçar, juntar-se de alguma forma; o ser buscaria sempre completar-se, encontrar aquela metade que lhe falta[4]. Isso explicaria porque alguns homens interessam-se por homens e outros por mulheres, constituindo-se a mesma concepção para o sexo feminino e o nascimento do amor.
            Antes de Sócrates começar seu discurso, ele utiliza da Maiêutica com Agatón, o qual havia dito que Eros procurava aquilo que não tinha em si e, também, que ele não gostava nem buscava as coisas disformes, apenas a beleza. Sócrates, sagaz, diz a Agatón que ele havia chamado Eros de feio e lhe questiona se isso pode ser possível, assim, o que Sócrates quis dizer: se se busca o contrário, Agatón, sendo bonito, atrair-se-ia por alguém que fosse feio (como é de costume, Sócrates arrasa na desconstrução do discurso)... o que não faz sentido.
            Sócrates explicará sua visão sobre o amor através das conclusões que chegara por meio de Diotima[5], mulher que lhe fez os questionamentos os quais havia acabado de fazer para Agatón. O filósofo diz que, ao contrário do que se estava dizendo em todo o banquete, Eros era um intermediário entre os homens e deuses, mistura em si, pois, o que há de mortal e imortal. Assim, se Eros deseja o belo, é porque ele não é belo e, portanto, o deseja ser. Igualmente poder-se-ia compará-lo ao sábio, que mesmo sábio, quer conhecimento, isso também faz com que se conclua que não se pode ser originalmente sábio, do mesmo modo se constituiria um filósofo, que deseja alcançar o conhecimento e se encontra em uma posição intercessora entre o saber e a ignorância.
        Através de “O Banquete”, se pode perceber que o amor é tanto o que mobiliza a alma para contemplação da beleza, como existe na realização da ação, no fato, há algo nele, portanto, que se condensa em um sentimento bem defino e, ao mesmo tempo, se expande permeando diversas sensações e vontades dos seres. O amor seria, então, algo que não necessariamente se confina ao biológico nem ao contemplativo, figurando, como o deus Eros, em um intermediário. Ou seja, o amor é essa coisa que lindamente nos deixa sentir e não sentir, duvidar e ter certeza, esse gelo que arde com torpia (acho que li isso em algum poema)... 


REFERÊNCIA

PLATÃO. Diálogos: O Banquete, Mênon, Timeu, Crítias. Bauru: Edipro, 2010. Notas e tradução: Edson Bini.
           
           



[1] Eros, em “O Banquete”, significa amor, não se exclui, aqui, o Eros ‘deus’, entretanto o entendimento da palavra não pode ser limitado apenas ao deus, mas, sim, tudo o que venha a dizer respeito sobre o amor.
[2] PLATÃO. Diálogos: O Banquete, Mênon, Timeu, Crítias. Bauru: Edipro, 2010. Notas: Edson Bini. p. 9.
[3] Ressalta-se que havia uma valorização do amor do homem para com outro homem.
[4] Sócrates mostrará que Eros busca aquilo que lhe falta, o que não tem e, portanto, retira-lhe a forma de deus somente, precisando, para ser algo com vontade, não ter tudo.
[5] Sacerdotisa de Mantineia. 

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