A sociedade na qual estamos inseridos funciona baseada em um sistema econômico que precisa ser continuamente alimentado para continuar funcionando. O problema é a lógica dessa alimentação: sempre mais. Ou seja, quando se aproxima o momento em que uma quantidade de alimentação não será mais suficiente para manter o sistema, devido sua lógica não ser estática, fixa, equilibrada (sei nem como definir), é preciso encontrar maneiras de conseguir aumentar a alimentação.
Pode soar como um avanço, um progresso, mas na verdade, se trata de manter dois pólos extremamente opostos nos seus devidos lugares: favorecidos de um lado, desfavorecidos do outro.
Acredito que a maioria dos brasileiros deve, pelo menos, ter ouvido falar do PL 4330 ou como é mais conhecido, do "PL da Terceirização". Desde a notícia de que esse projeto de lei seria votado, trabalhadores começaram a se organizar por todo o país para denunciar o que o projeto de fato significa.
Muitos dos que são a favor se utilizam do argumento de que há algum tempo existe um processo de "mudança" na economia e que esse processo exige uma "adequação" da mão de obra às suas necessidades. Alegam que a terceirização está inserida dentre essas adequações e que essa proposta de projeto, que foi rapidamente aprovada na câmara dos deputados, é uma forma de "legalizar" essa adaptação para favorecimento da economia. No entanto, ninguém esclarece na verdade qual o significado dessas "mudanças".
Legalizar a terceirização na verdade significa legalizar uma exploração. A terceirização já existe, mas abrange uma gama pequena de profissionais, com a aprovação desse projeto de lei, qualquer profissional poderá ser super explorado, quer dizer, terceirizado. Consequentemente, direitos trabalhistas, salários, segurança, e até aposentadoria serão comprometidos em prol do aumento do lucro das empresas, tudo isso com o objetivo de alimentar mais a economia, que não pode parar de crescer, pois o lucro não pode parar de aumentar, e quem é favorecido não pode se arriscar correr o risco de deixar de ser. Se a lógica do sistema é rompida, o sistema deixa de funcionar e 'alguém' vai perder privilégios sobre o pólo oposto.
Parece difícil de compreender a exploração? Vou ilustrar um pouco mais num contexto sem terceirização. Se a produção média da indústria automobilística é de aproximadamente 2,25 carros ao mês por trabalhador, e arredondarmos para 2, isso significa que em 1 mês, cada trabalhador do setor produz em média 2 carros. Supondo que o valor de cada carro, tomando por base os mais baratos, seja de R$ 24.000,00, cada trabalhador gera, em 1 mês, R$ 48.000,00. Supondo que o salário desse trabalhador seja de R$ 2.000,00 e que ele trabalhe 24 dias por mês, dividindo-se R$ 48.000,00 por 24, temos exatamente R$ 2.000,00. Ou seja, esse é o valor gerado por um único trabalhador em um único dia de trabalho. O trabalhador paga seu salário trabalhando um único dia, e trabalha 23 dias para gerar riquezas para o seu patrão (CANARY, Henrique, 2012).
Para concluir, os trabalhadores que mais sofrem acidentes de trabalho são os terceirizados, e com os altos índices de desemprego e de procura por trabalho, existe uma alta rotatividade (demissões) e uma desvalorização ainda maior desses profissionais.
Além de tudo isso, terceirização é um grande pretexto para extinguir concursos públicos, já que será mais fácil e lucrativo contratar uma empresa para fornecer qualquer profissional que seja necessário: médico(a), engenheiro(a), professor(a), enfermeiro(a) etc. pelo período mais absurdo (leia-se 'curto') que a empresa contratante desejar. Digamos que a empresa contrate um tipo de profissional para determinada função a cada três meses (durante o atual período de experiência), ela não será obrigada a justificar a demissão após esse período, afinal, trata-se de um funcionário temporário, terceirizado.
Onde quero chegar com isso tudo? Já há mobilização para tentar impedir a aprovação do PL, mas venho aqui reforçar... É preciso se unir URGENTEMENTE contra essa que é a maior tentativa de golpe a ser dada no Brasil desde a Ditadura Militar. Trabalhador, estudante... todo mundo! Todos nós seremos afetados, principalmente os jovens que estão prestes a se inserir no mercado de trabalho, com a aprovação desse golpe disfarçado de "legalização".
Como diz o ditado: "Melhor prevenir do que remediar".
Acha que estou exagerando? Quer esperar pra ver?
CANARY, Henrique. O que é... Conceitos Fundamentais de Política, Economia e Sociedade. Coleção 10 . Vol. 18. Pág. 11. Editora Sundermman, 2012.
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