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Análise da situação da UFRN e crítica ao discurso da Reitoria

Grande parte dos moradores de Natal talvez desconheça o que lhes vou relatar, mas para os estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) a situação infelizmente já faz parte do cotidiano acadêmico.



A UFRN dispõe de um Campus Universitário significativamente grande, segundo informações dispostas na Wikipedia, tem aproximadamente 23 hectares (o equivalente a 230.000 m²), sua dimensão é tanta que faz parte dos bairros de Lagoa Nova, Capim Macio e Nova Descoberta. O que, mesmo diante de diversos prédios sendo construídos, e milhares de pessoas passando pelo campus diariamente, gera uma diversidade de áreas com poucas construções, ou próximas as reservas, ou mesmo que não atraem tanto o fluxo de pessoas. O que por sua vez, sobretudo a noite, cria áreas desertas, no qual por vezes, se pode caminhar ou se fixar sem esbarrar com mais ninguém por alguns minutos. Isto, finalmente por sua vez na ausência de vigilantes, criam zonas de grande insegurança propensas a criminalidade, a prática de furtos, roubos e outros tipos de violência que já sairam do campo da possibilidade a muito tempo e infelizmente já fazem parte do cotidiano do campus.

A insegurança no Campus Central da UFRN se tornou crítica.
Não estou sendo hiperbólico, caro leitor, ao afirmar que a violência no Campus já faz parte do cotidiano acadêmico. Não me surpreenderia se enquanto redijo este texto um universitário estivesse sendo assaltado em uma destas áreas que ocasionalmente ficam desertas, talvez na Parada de ônibus do Setor II, talvez e mais provável, [chega a ser ridículo a frequência que ocorre por lá] na parada de ônibus do Centro de Biociências [CB]. Não saberia informar números, mas novamente não estamos tratando de possibilidades. Pode não está ocorrendo um assalto neste momento, mas hoje, certamente já ocorreu, basta acompanhar o grupo da UFRN no Facebook, e verá as publicações em tom de alerta, denunciando mais um assalto. Novamente, a situação é crítica.

Contudo, leitor, esta publicação não é sobre a criminalidade no cotidiano do Campus Central, ao menos não só sobre isso. Esta publicação é acima de uma denúncia, uma crítica.

Como bem se sabe, a Universidade dispõe de um Restaurante Universitário [RU] no qual, ao custo de 3,00 reais por refeição o estudante pertencente a instituição pode se alimentar no café da manhã, almoço ou jantar. Críticas são feitas à estrutura, à legitimidade do preço, à qualidade da comida, à necessidade de construção de um novo RU, entre outras. Sendo as críticas mais recentes contra a designação excessiva de pelo menos seis seguranças [no mínimo quatro na entrada e dois na saída] para controlar ao acesso, e contra a instalação de catracas na entrada e na saída que não só dificultam e são um retrocesso em acessibilidade como tornam o simples processo de entrada e saída mais lento, gerando um aumento significativos na fila de entrada, tão significativo que por vezes pode dar a volta no RU, além de não raro criar uma pequena fila na saída, o que por si só, por menor que seja, já soa ridículo entrar numa fila para sair.

Peço calma ao leitor, pois esta publicação também não é uma crítica sobre a situação do RU, não só sobre isso. Esta publicação é acima de uma crítica sobre uma estrutura, uma crítica a um comportamento, assim como uma crítica a um discurso.

Quarta-feira, dia 18 de março de 2015, um estudante, ou um grupo de pessoas, segundo informações divulgadas pela [questionável] reitoria, inconformado com a situação, ignorou a fila e entrou pela janela do Restaurante. Ao tentar se alimentar, foi barrado pelos seguranças presentes no estabelecimento e diante da situação grita em protesto. A situação foi gravada e compartilhada nas redes sociais. Diante do acontecido, a Reitoria, através do SIGAA, se pronunciou. 

UFRN lamenta atos de vandalismo e estuda medidas para manter funcionamento do RU

A tentativa de invasão por parte de estudantes ao Restaurante Universitário (RU), no Campus Central,  registrada na manhã desta quarta-feira, 18,   levou a reitoria da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) à discussão de medidas a serem adotadas, caso necessário,  para preservar as instalações e garantir os serviços prestados pela unidade à comunidade universitária.

Durante o horário de almoço, entre  11h e 13h, um grupo reduzido de pessoas protagonizou cenas de desrespeito à coletividade que busca o RU para se alimentar. O serviço de segurança constatou danos em parte da cerca de proteção e janelas de vidros do prédio, além da tentativa de inutilizar a catraca de acesso ao RU. Com estes atos essas pessoas colocaram em risco suas próprias vidas e das pessoas que se encontravam próximas. Cerca de 14 pessoas participaram das ações de vandalismo, o que pode ser visto em pagina disponibilizada em uma rede social na internet.

À tarde a reitora Ângela Paiva Cruz reuniu a equipe de colaboradores, incluindo pró-reitores, representantes da área de infra-estrutura, segurança, assistência estudantil e da procuradoria jurídica para discutir o assunto e encaminhar deliberações. A intenção é evitar outros atos de vandalismo e depredações ao patrimônio da instituição e garantir o funcionamento do restaurante. 

O RU  atende estudantes e servidores, em especial aos moradores das residências universitárias, servindo uma média de 4.000 refeições no horários do almoço e jantar. Ressalta-se que para os alunos das moradas estudantis as refeições  oferecidas pelo RU são,  em muitos casos, as únicas a que têm acesso, portanto indispensáveis. E que sem esses atendimentos todos os alunos residentes ficam sem nenhuma segurança alimentar.

A UFRN entende que o grupo que protagonizou as ações desta quarta-feira não tem  representatividade e não pode colocar em risco um serviço que é fundamental e que precisa continuar sendo ofertado em clima de normalidade. Por isso, na reunião os gestores avaliaram também, o anúncio de novas ações por parte do grupo que continua a apregoar a ocupação do RU,  em que pese a sua não representatividade  em relação à comunidade universitária.

A reitoria da UFRN afirma que sempre esteve aberta ao diálogo e à negociação com a comunidade estudantil e que tem buscado, na medida de suas possibilidades e recursos disponíveis, garantir a ampliação e qualidade de assistência estudantil. Entretanto, diante de atos que comprometem o funcionamento normal do RU, além da depredação de um bem que é público, envidará esforços para apurar os fatos mencionados e a abertura de processos por responsabilização ao patrimônio da instituição.

A instituição irá adotar todas as medidas que forem necessárias, no âmbito administrativo e jurídico, para evitar danos ao patrimônio público, garantir o funcionamento do RU e a integridade física das pesoas que frequentam aquele espaço. Porém, entende que a normalidade de seu funcionamento não é responsabilidade exclusiva da administração, mas algo que deve ser assumido também pelos usuários e usuárias.

A reitoria   lamenta, também,  que justo  quando a Cidade do Natal precisa de um clima de paz, respeito e tolerância especialmente após os atentados à segurança pública ocorridos nos últimos dias, um pequeno grupo de pessoas promova em seu ambiente atos que potencializam a intranquilidade e a insegurança.

Ampliação do RU

Durante a reunião a reitoria discutiu as ações que estão em andamento para ampliar os serviços e oferecer mais comodidade aos usuários do RU. Como nos últimos anos o número de vagas na UFRN cresceu significativamente vários setores estão passando por reformas ou ampliações. No caso dos Restaurantes Universitários a UFRN está trabalhando em projetos de novas unidades. No Campus Central, até a construção de uma nova unidade, a UFRN colocará em funcionamento instalações provisórias para facilitar o acesso dos alunos e diminuir problemas como as filas e as acomodações.
Agradeço a paciência, e enfim, diante deste pronunciamento, elaboro esta publicação como uma crítica, não especificamente ao posicionamento da instituição, mas a sua atitude, a seu discurso.

Me pergunto como alguém põe em risco a própria vida, ou a dos presentes, pulando uma janela. Não precisa esconder, a preocupação é com o patrimônio mesmo. Esperar em filas enormes por uma comida questionável e ainda correr o risco de ser assaltado, nada se fala. 
É quase cômico, apela-se a sensibilidade de quem lê, 
 A reitoria lamenta, também, que justo quando a Cidade do Natal precisa de um clima de paz, respeito e tolerância especialmente após os atentados à segurança pública ocorridos nos últimos dias, um pequeno grupo de pessoas promova em seu ambiente atos que potencializam a intranquilidade e a insegurança.
Quando hipoteticamente a um risco ao patrimônio a reitoria se manifesta, mas quando de fato se iniciaram as rebeliões nos presídios do estado e a segurança pública ficou comprometida, inclusive, quando o circular parou sem aviso prévio, deixando vários estudantes a própria sorte em um ambiente que assaltos já são comuns, não houve nenhum pronunciamento da instituição. Nem mesmo no dia seguinte, quando havia incerteza do transporte público, das aulas e da própria segurança, não houve pronunciamento, a segurança não foi reforçada e quem foi a UFRN no dia após o inicio da rebelião, sobretudo a noite, foi, aí sim, arriscando a própria vida, mas a reitora não se pronunciou. Agora meia dúzia de estudantes recusam-se a se omitirem diante da situação do RU e indo contra até mesmo os comentários nas páginas da internet que ela mesma menciona, tenta convencer que não há apoio por parte dos estudantes, tenta convencer que há uma preocupação com a segurança dos estudantes, tenta convencer ainda que há diálogo, quando não há. 

Minha crítica então não é com relação a posição da reitoria com relação ao ato no RU. Minha crítica é sobre a omissão da instituição quando a violência no campus já se tornou parte do cotidiano. Minha crítica é sobre a ausência de qualquer manifestação da parte da reitoria quando a cidade ficou em caos com a rebelião nos presídios e os circulares foram recolhidos deixando os estudantes a própria sorte. Minha crítica é com relação ao cinismo e a hipocrisia da parte da reitoria ao fazer este pronunciamento e ainda apelar para o estabelecimento da ordem e da paz quando existe uma crise na segurança da UFRN já a muito tempo no qual pouquíssimo se fala, quase não há, e recentemente, nos chamados pela própria instituição, "atentados a segurança pública", de fato não houve um pronunciamento sequer.

Esta opinião não necessariamente representa o Coletivo Potiguar. Trata-se apenas das ideias deste colaborador.
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1 comentários:

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Alexandre Beethoven
admin
20 de março de 2015 às 11:21 ×

Amigo concordo total. Seu texto está uma maravilha, espero que a galera reconheça essa realidade. Às vezes, é preciso que alguém diga para que os próprios reféns se toquem que estão sendo lesados em seus direitos.

Congrats bro Alexandre Beethoven you got PERTAMAX...! hehehehe...
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