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Tráfego dos navios negreiros na noiva do sol

Ribeira, Zona Leste de Natal. Foto: Alberto Sampaio


O Sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Natal (SETURN) fez mais uma solicitação de aumento das tarifas de transporte urbano da cidade e desta vez o valor cogitado é de R$ 2,90. É muito importante frisar que quando se fala em transporte urbano nessa cidade, trata-se apenas de ônibus, pois não existem investimentos significativos para melhorias no trânsito e na mobilidade urbana e qualidade de vida — confortabilidade e acessibilidade em seus significados mais amplos — da sociedade natalense, como em veículos de trilhos, metrô, trem ou veículo leve sobre trilhos -VLT; ou ciclovias e calçadas para pedestres transitarem na cidade em segurança e terem acesso às oportunidades que o meio lhes concede. Essa é uma questão de luta de classe que se estabelece e pode ser facilmente percebida em nosso convívio diário.

O valor final do reajuste feito pelo SETURN ainda está "em análise", segundo a Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (STTU), o que não deixa de ser uma jogada do poder público em conjunto com os empresários que têm poder sobre a política local a qual consiste em ditar um valor alto como R$ 2,90 já sendo um preço inadmissível pela sociedade, mas tendo uma contraoferta, o valor de R$ 2,50. Assim eles garantem o aumento da tarifa por se tratar de um valor mais aceitável que o primeiro ofertado.

Neste ano estão para ser reavaliadas as empresas que prestam serviço de transporte público — ônibus unicamente — à população de Natal por meio de licitação e será feito um novo processo que decidirá quais serão as empresas que atuarão na cidade. Vale lembrar que o prefeito Carlos Eduardo prometeu à cidade que administra um congelamento no reajuste da tarifa de ônibus de Natal. O aumento da tarifa seria somente após as mudanças no serviço, mas recentemente descumpriu a própria palavra e se cala em uma clara atitude de submissão.

A Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (STTU) já informou que o aumento da passagem de ônibus será concedido antes de finalizar o processo da licitação dos transportes. Segundo os cálculos preliminares da própria Secretaria, a passagem aumentaria dos atuais R$ 2,35 para R$ 2,50 somente com reposição inflacionária do último ano. Os empresários pedem tarifa mínima de R$ 2,90.
O último reajuste dessa tarifa dos coletivos foi realizado no dia 23 de julho de 2014, quando saiu de R$ 2,20 para R$ 2,35, um aumento de 6,8%. Após cinco meses o Sindicato solicitou um novo reajuste.

Quem reside em Natal conhece a situação dos ônibus que trafegam nesta cidade. É extremamente naturalizado este serviço ser comparado a navios negreiros, transbordando com um contingente superior ao permitido de pessoas que voltam para casa depois de uma jornada exaustiva de trabalho e estudo, em sua maioria pobres que moram nas margens desta cidade chamada de Noiva do Sol, mas que a população sofre como mucama.

É preciso que haja mais firmeza em quem está na frente de uma gestão municipal, dos movimentos sociais, para não visualizarem a temática de mobilidade urbana somente pela questão da tarifa de ônibus, mas também vê-la como parte integrante da qualidade de vida com calçadas adequadas para um tráfego em segurança e confortabilidade, presença mais forte de um sistema de veículos sobre trilhos dentro da cidade e não somente nas margens dela, assim como ciclovias. E que todas essas medidas sejam projetadas para funcionar com conforto, segurança, empatia e acima de tudo, respeito com  para todos.

Fica a inquietação se há de fato confiança e posicionamento nesses processos da gestão desta cidade do Natal, principalmente quanto ao tocante mobilidade urbana e qualidade de vida dos que utilizam esse serviço. Deve-se frear o investimento pensado unicamente para veículos motorizados e humanizar mais este serviço que é executado com modelo ultrapassado e desrespeitoso.

Quando o povo elege o seu representante, é esperado que ele o faça de acordo com o que prometeu e não se trancar em seu palácio e silenciar todas as suas vozes, deixando a população ao léu. Por sua vez, quem vota, não deve ficar paralisado se perguntando o que será deles, quando seu representante não se move, é hora de erguer os punhos rumo à luta e reconquistar os seus direitos. Reclamar, protestar e expor as indignações sociais do coletivo e do individual é o ato popular mais importante e legítimo que a democracia conhece, e para isso há inúmeras maneiras, como desde o votar assim como ir às ruas protestar, ocupando os espaços vazios na sociedade.

Parafraseando Renato Russo, “o que foi prometido ninguém prometeu”. Em 2013 os jovens de Natal se impuseram mediante o autoritarismo empresarial que se estabeleceu e nesta cidade do sol, talvez seja preciso mais uma batalha  para este povo vencer.
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