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O Tempo e o Espaço


          Em geral, a reação a um pensamento obscuro é outro pensamento de repreensão, à procura de uma motivo forte o suficiente para que o primeiro raciocínio não seja mais necessário.
          Tendo dito isso, creio que você se conhece o suficiente para saber o que te move, o que te faz acordar mais cedo em alguns dias da semana nos quais você não tem a obrigatoriedade de fazer isso, ou se permitir dormir umas horas a mais. A vida é feita de prioridades, e na maioria das vezes, esquecemos da missão de simplesmente viver.
          Mas então teríamos que chegar num consenso do conceito de viver, correto? O que é viver a vida intensamente,  pra você? Seria viajar pelo mundo, com uma mochila nas costas e a coragem no bolso? Seria ousar, abrir o próprio negócio e fincar seus dois pés no chão? Constituir família, pagar impostos e escolher o lugar onde será seu túmulo? Talvez deveríamos começar por partes.
          Talvez a escolha principal se refira a espaço e tempo. Estou divagando um pouco, então vou compartilhar o meu conceito.
          Sempre fui de opinião de que eu posso fazer ou ser qualquer coisa que me deixe feliz, desde que eu não machuque outros (espaço alheio) ou a mim mesma (espaço pessoal) no processo. Dizendo isso, estou admitindo dezenas de coisas ao mesmo tempo. Quando imponho que minhas ações podem ser infinitas e diversificadas, digo que eu ajo de acordo com meus sentimentos, e não somente com meu conceitos bem estruturados. Declarar isso é aceitar que sou sentimento, sou momento, sou a periculosidade do impulso. Este é o que eu chamo de "estado de alegria".
          Algumas pessoas classificam a felicidade e a alegria como uma sendo momentânea e a outra sendo um estado de espírito, não necessariamente nessa ordem. Esta liberdade de ação não é a causadora de apenas bons ou maus resultados, mas puramente de consequência.
          No nosso cotidiano, usamos essa palavra, "consequência", como algo ruim. Eu gosto da tradução para o inglês, aftermath. Se traduzido literalmente para o português, diz "após a matemática". Então, quer sua vida tenha sido soma ou subtração, quer tenha sido multiplicando problemas  ou dividindo a carga, há um resultado no fim da equação. Em suma, sua vida são linhas de programação detalhadamente configuradas, e o quadro não precisa ser considerado como bom ou ruim, do mesmo modo que não existem pessoas puramente boas ou perversamente ruins, mas apenas pessoas com interesses.
          Quanto ao tempo, creio que nesse quesito, o que se classifica é a imperatividade do querer em determinado momento ou reclamar o direito de querer depois e não ser nada específico sobre isso. A liberdade de poder esperar não por alguém, ou por algum evento, mas pela vontade em si. Isso não é um meio para atingir a felicidade, mas meramente um aspecto generoso em nossa forma mais egoísta. "Eu não quero agora, nem tenho a obrigação de declarar quando eu mudar de ideia, mas pode ter certeza que irei em frente e o farei."
          Não se trata de irresponsabilidade ou indisponibilidade para algo que não seja de meu interesse, mas trata-se de vontade. Não é sábio que a vida seja somente controlada pelo momento, mas sim por objetivos que vão além disso, porém é essencial reconhecer a fraca vertente, e abraçá-la como a importante faceta que ela é. De forma clara, se meu objetivo é concluir meu curso na faculdade e minha vontade é dormir um pouco mais ou trocar a programação do dia por um impulso, então declaro que tipo de pessoa eu sou com meus próprios planos. Por isso entra o detalhe: não machucar a si mesmo. Se estou me precipitando em alguma escolha e me prejudicando, estou sendo contrário ao meu alvo maior, que é ser feliz.
          Concluo, então, que intensidade e moderação podem coexistir, mesmo se eles não estiverem balanceados. Dentro de mim eu faço espaço, dentro de mim eu arranjo tempo.
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