TEXTO DE ANTONIO NAHUD - Artista finge ter ido ao exterior e ganhado prêmios internacionais, mas tudo não passou de uma FARSA.
-Você sabia que pode ser um Colaborador do Coletivo Potiguar? Envie-nos seu texto, foto, vídeo... Faça parte, coletivize-se!
A colaboração desta semana foi de Antônio Nahud poeta e escritor que mora em Natal desde 2010. Militante da política, cultura e de gente. Como escritor teve o livro de contos "Pequenas Histórias do Delírio Peculiar Humano" premiado com o Troféu Cultura-RN de Melhor Livro do Ano. Um homem tranquilo com a vida, insatisfeito com as convenções, que procura sempre conhecer gente, matéria-prima de um escritor. Apaixonado pela vida. Cinéfilo incorrigível. Fascinado pelo mar e pela lua. Escreve sobre o seu tempo e sobre o passado histórico, dois contrastes que se traduzem na sua literatura.
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O infortúnio humano se revela em variadas faces: na corrupção, na devastação da natureza, nas cobiças, nas traições, nas calúnias... Nos corações inefáveis. É possível vê-las pela tevê, nos jornais, nas declarações, nas canções, no trabalho, nas conversas de bar. Uma dessas faces muito presente é a que divulga sucesso e vitórias, omitindo que fracassos ou derrotas fazem parte do jogo da vida. Acredita-se que ninguém deve perder, mas se perde, então é porque não foi bom o suficiente. Fracassou. A sociedade dos “vencedores” prontamente afasta do caminho os “perdedores”, e tudo passa então a gravitar em torno do respeito e da consideração devidos aos que erguem um troféu, seja ele qual for.
Não nos basta apenas ser artista. Queremos cada vez mais o que nos coloque ao menos um pouco acima em relação ao nosso colega. É urgente ser o melhor, como condição indispensável para existir. Daí põe-se em risco a própria arte ao vender-se à falácia – metáfora retratada com genialidade no célebre poema épico “Fausto” (1808), de Goethe, onde o protagonista desiludido faz um pacto com o demônio Mefistófeles, que o enche com a energia satânica insufladora da paixão pelo poder e fama. Exemplifico. Como não tenho papas na língua, escrevendo o que me dá na telha, recentemente dois agentes culturais me contaram uma história cabulosa. Garantiram que se comenta no meio artístico, mas ninguém ousa registrar publicamente. Por fim, uma terceira pessoa, do próprio grupo profissional do implicado, repetiu idêntica denúncia. Será maledicência, inveja ou indignação?
Segundo eles, um artista até certo ponto popular, fantasiou uma viagem e premio internacionais, divulgando-os abundantemente na imprensa de sua cidade. Como comentários expelidos em fel amargo contra qualquer criatura humana é o habitual, resolvi investigar o caso. Sei que em meio à enxurrada diária de acusações, bobagens, especulações, leviandades, politiquês e economês, os veículos de comunicação publicam muita coisa às pressas, sem análise profunda ou averiguação sólida. A maioria das redações vive da credibilidade duvidosa de releases, como se a propaganda recebida fosse sempre real, quando nem sempre é assim.
Dando uma de Sherlock Holmes, logo descobri que a notícia não atravessou fronteiras, o que é suspeito, suspeitíssimo. Como um único artista brasileiro num festival internacional – mesmo insignificante - não é reconhecido nacionalmente? Acessei e traduzi o site do evento e o seu nome não é citado. Não há fotos nem vídeos da sua participação em postagens públicas. É como ir a Paris pela primeira vez e não tirar fotografias diante da Torre Eiffell. Algo incomum, principalmente se a pessoa é visivelmente vaidosa, colocando imagens sem fim da cara e artes em redes sociais.
Em contato com os dirigentes da Associação supostamente responsável pela produção da viagem, soube que eles gentilmente fizeram várias indicações Brasil afora, mas sem compromisso, não acompanharam a seleção final ou apresentação. Divulgaram na sua página a partir de informações do próprio artista. Jogando verde, telefonei a um disputado escultor do interior que faz esse tipo de troféus. Sim, confeccionou alguns troféus com legendas em outros idiomas, mas prefere não revelar os clientes. Concluindo a averiguação, pedi a um amigo espanhol, jornalista do El País e correspondente no país onde a competição artística ocorreu, uma lista dos artistas participantes e premiados. Estou à espera.
No tempo da Inquisição, denominava-se carocha uma espécie de insígnia extravagante que os condenados eram obrigados a ostentar, a caminho do suplício. Além de outros significados pouco relevantes, carocha acabou se transformando em denominação de narrativa fantasiosa – uma mentira. O diminutivo do vocábulo – carochinha – se popularizou. Tudo leva a crer que a viagem e o premio do artista em questão são contos de carochinha. Aguardemos. Confirmada a má fé, divulgo o nome do trapaceiro e do acontecimento propagado, além da relação completa dos jornais e blogues ludibriados.
É no mínimo desalentador constatar o quanto a sociedade tem sido levada a chafurdar num lamaçal crescente. Inerme, ela assiste o ritmo devastador dessa degradação, apesar da repugnância de poucos que, mais dia, menos dia, deságua em desalento.
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A colaboração desta semana foi de Antônio Nahud poeta e escritor que mora em Natal desde 2010. Militante da política, cultura e de gente. Como escritor teve o livro de contos "Pequenas Histórias do Delírio Peculiar Humano" premiado com o Troféu Cultura-RN de Melhor Livro do Ano. Um homem tranquilo com a vida, insatisfeito com as convenções, que procura sempre conhecer gente, matéria-prima de um escritor. Apaixonado pela vida. Cinéfilo incorrigível. Fascinado pelo mar e pela lua. Escreve sobre o seu tempo e sobre o passado histórico, dois contrastes que se traduzem na sua literatura.
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IMAGEM: FLÁVIO ANTONINI |
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OU NAS PROFUNDEZAS DA FRAUDE
OU NAS PROFUNDEZAS DA FRAUDE
O infortúnio humano se revela em variadas faces: na corrupção, na devastação da natureza, nas cobiças, nas traições, nas calúnias... Nos corações inefáveis. É possível vê-las pela tevê, nos jornais, nas declarações, nas canções, no trabalho, nas conversas de bar. Uma dessas faces muito presente é a que divulga sucesso e vitórias, omitindo que fracassos ou derrotas fazem parte do jogo da vida. Acredita-se que ninguém deve perder, mas se perde, então é porque não foi bom o suficiente. Fracassou. A sociedade dos “vencedores” prontamente afasta do caminho os “perdedores”, e tudo passa então a gravitar em torno do respeito e da consideração devidos aos que erguem um troféu, seja ele qual for.
Não nos basta apenas ser artista. Queremos cada vez mais o que nos coloque ao menos um pouco acima em relação ao nosso colega. É urgente ser o melhor, como condição indispensável para existir. Daí põe-se em risco a própria arte ao vender-se à falácia – metáfora retratada com genialidade no célebre poema épico “Fausto” (1808), de Goethe, onde o protagonista desiludido faz um pacto com o demônio Mefistófeles, que o enche com a energia satânica insufladora da paixão pelo poder e fama. Exemplifico. Como não tenho papas na língua, escrevendo o que me dá na telha, recentemente dois agentes culturais me contaram uma história cabulosa. Garantiram que se comenta no meio artístico, mas ninguém ousa registrar publicamente. Por fim, uma terceira pessoa, do próprio grupo profissional do implicado, repetiu idêntica denúncia. Será maledicência, inveja ou indignação?
Segundo eles, um artista até certo ponto popular, fantasiou uma viagem e premio internacionais, divulgando-os abundantemente na imprensa de sua cidade. Como comentários expelidos em fel amargo contra qualquer criatura humana é o habitual, resolvi investigar o caso. Sei que em meio à enxurrada diária de acusações, bobagens, especulações, leviandades, politiquês e economês, os veículos de comunicação publicam muita coisa às pressas, sem análise profunda ou averiguação sólida. A maioria das redações vive da credibilidade duvidosa de releases, como se a propaganda recebida fosse sempre real, quando nem sempre é assim.
Dando uma de Sherlock Holmes, logo descobri que a notícia não atravessou fronteiras, o que é suspeito, suspeitíssimo. Como um único artista brasileiro num festival internacional – mesmo insignificante - não é reconhecido nacionalmente? Acessei e traduzi o site do evento e o seu nome não é citado. Não há fotos nem vídeos da sua participação em postagens públicas. É como ir a Paris pela primeira vez e não tirar fotografias diante da Torre Eiffell. Algo incomum, principalmente se a pessoa é visivelmente vaidosa, colocando imagens sem fim da cara e artes em redes sociais.
Em contato com os dirigentes da Associação supostamente responsável pela produção da viagem, soube que eles gentilmente fizeram várias indicações Brasil afora, mas sem compromisso, não acompanharam a seleção final ou apresentação. Divulgaram na sua página a partir de informações do próprio artista. Jogando verde, telefonei a um disputado escultor do interior que faz esse tipo de troféus. Sim, confeccionou alguns troféus com legendas em outros idiomas, mas prefere não revelar os clientes. Concluindo a averiguação, pedi a um amigo espanhol, jornalista do El País e correspondente no país onde a competição artística ocorreu, uma lista dos artistas participantes e premiados. Estou à espera.
No tempo da Inquisição, denominava-se carocha uma espécie de insígnia extravagante que os condenados eram obrigados a ostentar, a caminho do suplício. Além de outros significados pouco relevantes, carocha acabou se transformando em denominação de narrativa fantasiosa – uma mentira. O diminutivo do vocábulo – carochinha – se popularizou. Tudo leva a crer que a viagem e o premio do artista em questão são contos de carochinha. Aguardemos. Confirmada a má fé, divulgo o nome do trapaceiro e do acontecimento propagado, além da relação completa dos jornais e blogues ludibriados.
É no mínimo desalentador constatar o quanto a sociedade tem sido levada a chafurdar num lamaçal crescente. Inerme, ela assiste o ritmo devastador dessa degradação, apesar da repugnância de poucos que, mais dia, menos dia, deságua em desalento.
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