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O Lado B de Nina Simone





Nina Simone em um quarto de motel em Buffalo, Nova York. Dezembro de 1964. Foto de Alfred Wertheimer.


As figuras públicas são constantemente bombardeadas com luzes, com holofotes, mas em contrapartida, existe um interesse pelo avesso, pelo que está oculto, o lado B, pois se existe luz, existe sombra! E foi em busca do que está por trás das luzes de uma diva que Alfred Wertheimer fotografou Nina Simone entre 1964 e 1965. Influenciado pela fotografia realista, Alfred cunhou o termo “escuridão disponível”, a ideia era que nos locais mais escuros, longe dos olhos da multidão, é que se fazia uma captura da essência de alguém.


Nina Simone em um quarto de motel em Buffalo, Nova York. Dezembro de 1964. Foto de Alfred Wertheimer.


Alfred Wertheimer (1929-2014), um fotógrafo de origem alemã, foi convidado por Anne Fulchino, na época representante pessoal de Nina, para fazer uma sessão de fotos. Anne e Alfred se conheciam já há algum tempo. Ela tinha sido a responsável pela contratação do fotógrafo pela gravadora RCA Victor. Na época, 1956, Alfred realizou as fotografias que o tornaram um fotógrafo lembrado, ele fotografou Elvis Presley antes de sua fama estrondosa. Apesar do convite de se fazer um ensaio mais intimista, Alfred e Nina ainda não se conheciam. 

Aqui selecionamos algumas das lindíssimas fotografias que Alfred Wetheimer fez de Nina Simone. As fotografias possuem um ar de descompromisso. A cantora é vista com sua filha Lisa e com seu marido Andrew. A proposta fotográfica foi procurar retratar Nina em sua intimidade, locais como quartos de hotéis, no carro da família e no camarim do Show do Carnegie Hall, Nova York, em janeiro de 1965.



Nina Simone e seu marido Andrew Stroud em um quarto de motel em Buffalo, Nova York. Dezembro de 1964. Foto de Alfred Wertheimer.


Algumas das belas fotografias que Alfred fez de Nina ilustram o documentário que a Netflix lançou no mês de junho sobre a trajetória da cantora. O documentário inédito assinado pela produtora e documentarista Liz Garbus, tem como título: What Happened, Miss Simone? O documentário contém por volta de 1 hora e 40 minutos, segue uma proposta linear, e tem como diferencial o volume documental utilizado na produção. A biografia de Nina já foi narrada, em outros trabalhos, com todos os acontecimentos do produto lançado recentemente, no entanto o documentário da Netflix apresenta como novidade algumas cartas, depoimentos inéditos de amigos, músicos e familiares. 



O casal Nina e Andrew em um pequeno voo para Buffalo, Nova York. Dezembro de 1964. Foto de Alfred Wertheimer.



Nina Simone em seu carro com sua filha Lisa. Dezembro de 1964. Foto de Alfred Wertheimer.


Dona de uma voz marcante, pianista, intérprete e compositora de músicas que abordam o lado mais profundo do ser humano, com suas angústias, seus amores, suas dores, Nina Simone (1933-2003) possui um repertório que perpassa o Jazz, o Folk e o Blues. A norte-americana nasceu com o nome de Eunice Kathleen Waymon em Tyron, na Carolina do Norte. Filha de uma ministra metodista, Mary Kate Waymon e de um pai marceneiro, John Divine Waymon, teve uma educação religiosa e foi a sexta de oito filhos. Como boa parte dos músicos, começou a tocar na Igreja. Fez seu primeiro recital aos 12 anos, evento que foi lembrado pela retirada de seus pais da fileira da frente da plateia, para dar lugar a brancos. Pretendia ingressar na renomada escola de música, Curtis Institute, na Filadélfia, fez economias, contratou um professor particular, mas foi rejeitada no teste. Associou o resultado negativo ao preconceito por ser uma garota negra. Nina conseguiu estudar, posteriormente na Juilliard School, em Nova York. Após os 20 anos de idade adotou o nome Nina Simone (Nina de ninã, menina em espanhol e Simone por causa da atriz francesa Simone Signoret). O nome artístico também foi uma estratégia para esconder da família os lugares em que ganhava a vida, bares de má fama da Filadélfia, Atlantic City e Nova York.  Inicialmente apenas tocava, mas o dono de um estabelecimento exigiu que cantasse, então passou a usar sua voz na companhia do piano. 




Nina no Backstage do Carnegie Hall em Nova York. Janeiro de 1965. Foto de Alfred Wertheimer. 


Nina gravou seu primeiro álbum de estúdio em 1957, com o título Little Girl Blue, pela Bethlehem Records, o álbum teve grande sucesso! Mas ao longo da carreira gravou pelas gravadoras Colpíx, Philips, e em 1967 pela RCA Victor. Em 1961, conheceu Andrew Stroud, um policial, que largou tudo para agenciar sua carreira, seria seu segundo casamento. Com Stroud teve uma filha, Lisa Celeste Stroud, que nasceu em 1962. O casamento tumultuado foi marcado pela violência doméstica.

A cantora engajou-se nas causas dos direitos civis dos negros na década de 1960, tornou-se um símbolo da luta pela igualdade social, ao mesmo tempo sua postura radical fez com que perdesse trabalhos e sua carreira ficasse prejudicada. Após o divórcio, viveu na Libéria. Durante a vida lutou contra a depressão e o transtorno bipolar, estabeleceu-se também na Suécia, Holanda e por fim faleceu de câncer de mama no ano de 2003, em Paris.


Referências:

Alfred Wertheimer.com. Disponível em: http://www.alfredwertheimer.com/about-alfred/. Acesso em 25.06.2015.

Cada dia um fotógrafo. Disponível em: http://www.cadadiaunfotografo.com/2014/01/al-wertheimer.html. Acesso em 25.06.2015.



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