Se
você pensa em poema como algo somente feito por palavras, é melhor ampliar sua
concepção. Saiba que desde a década de 1960 essa ideia foi superada, graças ao
movimento do poema-processo.
Criado
simultaneamente em Natal e no Rio de Janeiro, o movimento do poema-processo
situou Natal nas vanguardas poéticas do século XX. De acordo com Dácio Galvão, a trajetória do
poema-processo se inicia oficialmente no ano de 1967, com o texto inaugural
“Proposição – 67”(Veja aqui).
O
poema-processo visava uma produção poética de transbordamento das normas
convencionais de se fazer poesia, comumente associadas a palavras e versos.
Esses poemas incorporavam outras formas possíveis de linguagem poética conectando-se
as formas geométricas, ilustrações, quadrinhos, dobraduras, texturas.
Utilizavam também letras e números, mas de forma a explorar seus contornos de
maneira não convencional. Eram poemas gráfico-visuais.
Essa
produção buscava a experimentação, rompia com os cânones poéticos e era também
uma reação ao conservadorismo do regime militar da época. As bases dessas
ideias foram impulsionadas por Wlademir Dias-Pino quando escreveu que a poesia
é criadora de processos e não uma forma acabada. Esses poemas desafiavam o expectador
a criar sua leitura particular, tornando-o participante do processo. A ideia
era não entregar uma fórmula pronta, não impor um mapa ao poema, mas fazer com
que ele estivesse à disposição da multiplicação dos sentidos e
interpretações. Esses poemas significavam uma nova perspectiva inclusive na
forma de se produzir arte. A arte não seria mais representada pela
singularidade e para deleite de uma minoria. O poema-processo buscava a
reprodução, a distribuição ostensiva da arte a todos.
Enquanto
fazer poético, é importante reconhecer a relevância da arte concreta para o
poema-processo. Para Galvão, esse movimento era um desdobramento da arte
concreta que surgiu na década de 1950. Os concretos como Décio Pgnatari,
Augusto e Haroldo de Campos, desejavam implodir os versos, mesmo os livres,
desejavam elaborar uma nova estética para a poesia, já o poema-processo
significou uma “radical tentativa de se
construir uma poética não literária”. Durante a 2ª EXPO Nacional do Poema-processo em 26 de janeiro de 1968 houve uma rasga de livros na escadaria do
Teatro Municipal do Rio de Janeiro. A manifestação deixava claro um combate ao
escrito em prol do símbolo, do signo. Combatiam a tradição do uso da palavra
(GALVÃO, 2004: p. 96).
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| Moacy Cirne, releitura em 2003 de um poema de 1969. Título: Branco x Branco x Branco. |
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| Falves Silva e Moacy Cirne, 1997. Título: Che. |
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| Marcos Silva, 1968. Título: A(R)MAR(?). |
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| Nei Leandro de Castro 1969 -. Título: Decomposição do Nu. |
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Anchieta Fernandes, 1967. Título: Olho.
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Referências:
GALVÃO, Dácio Tavares de Freitas. Da poesia ao poema: leitura do
poema-processo. Natal, RN: Zit Gráfica e Editora, 2004. 188p. Dissertação de Mestrado
do Departamento de Letras da UFRN.
MEDEIROS, Augusto B. Na Contramão: a contracultura natalense
e seus espaços (1960-1980). Natal, RN: Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Rio Grande do Norte, 2014. Trabalho de Final de Curso - Especialização
em Literatura e Ensino.
TRIBUNA DO NORTE. O poeta, artista visual e professor Moacy Cirne se despede aos 70 anos.
Disponível em : http://tribunadonorte.com.br/noticia/o-poeta-artista-visual-e-professor-moacy-cirne-se-despede-aos-70-anos/271591.
Acesso em 12.08.2014.






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